83, Rue de Rennes 75006

L'incurie de la toilette est un suicide moral.

samedi, janvier 27, 2007

Don't change your hair for me

Incrível a repercussão do post anterior. Obrigada a todos pelas ligações, mensagens, telegramas e scraps de compaixão (e curiosidade). Por um instante cheguei a ficar comovida, mas depois que o João Manuel, de tão surpreso, me deu "parabéns", cheguei a questionar a minha imagem! Mas enfim, o importante é que eu desencalhei, não é mesmo? Acreditem, queridos leitores: superei o caso Hyomin.

Eu havia chegado num estágio de encalhação em que só via casais. Pensem bem. Se no primeiro mês em Paris eu já havia purchased “Trouver un Jules à Paris”, imaginem a situação cinco meses depois... Na rua, no cinema, no metro, eles estavam partout e contra mim; cheguei a cogitar que se tratava de um complô. Para me defender, julgava pessoas comprometidas como seres inferiores. “Ahhh, tem namorado? Tsc, tsc, tsc”, eu dizia com uma das sobrancelhas levantada. Meus pobres amigos cansaram de discutir e rediscutir o meu caso, bolar teorias mirabolantes e lamentar a difícil situação de se ser solteiro por muito tempo.

Óbvio que eu nunca levava em consideração pequenos detalhes. Em primeiro lugar, eu mal saio de casa e, quando saio, se trata quase sempre de lugares em que a faixa etária média é de 70 anos. Em segundo lugar, eu nunca tomo iniciativa. Don’t get me wrong, leitores, não considero mulheres de iniciativa como não sendo “de família”. Mas, cá entre nós, esse momento do approach é awkward porque você tem que dizer algo inteligente. Não dá para simplesmente chegar e se apresentar, fazer algum elogio esdrúxulo, comentar o tempo. E as chances d’eu falar uma besteira sem tamanho num momento em que se espera algo inteligente é de 99%. É por isso que sempre prefiro esperar que o outro dê o primeiro passo. E é por isso também, claro, que eu sempre fico encalhada.

A soirée de fin de semestre da Sciences Po não seria diferente. Entraria na festa cheia de esperanças (a última que morre) e sairia cheia de amargura. Pelos menos estava com amigos queridos que não via há tempos, pensei, a música estava sensacional e, entre uma vodka tônica e outra, comecei a deixar o meu lado dancing queen aflorar. Eu não poderia imaginar que dali a alguns segundos tudo iria mudar.

Avistei um cara barbudo dançando no mesmo estilo que eu, algo entre Isadora Duncan e os carinhas de "Praise you". Eu me identifiquei. Foi tão espontâneo, que meu superego nem se pronunciou. No dia seguinte, relembrando esse fato inédito na minha vida de dar o primeiro passo, eu lembrei porque nunca o havia feito até então. Eu disse essas mesmas exatas palavras que estou prestes a digitar agora, caros leitores. Vocês estão sentados? Eu realmente falei isso, sem tirar nem pôr, e, mais, com um sotaque de inglês britânico: "Are you dancing alone?".

Após 3 segundos de silêncio, sem entender direito o que estava acontecendo, escuto um tímido "yes" e nós já estávamos dançando.

mercredi, janvier 24, 2007

O retorno

Estou numa fase boa. As provas acabaram. Fui bem em algumas, em outras me decepcionei, apesar de todo o esforço. Fato é que estou oficialmente de férias. Duas semaninhas que vieram a calhar muito bem. Minha cabeça não absorve mais nenhum tipo de informação. Nem a quantidade de calorias do alface, que eu vejo sempre na embalagem. Agora é janeiro, vários amigos brasileiros estão por perto. Maravilha. Mas preciso confessar a vocês, caros leitores, a grande notícia do ano. Eu diria, até, o grande evento do ano. Eu estou apaixonada. Vocês sabem que a probabilidade disso acontecer é a mesma do cometa Halley dar o ar de sua graça. Pois bem, eu estou apaixonada. E a minha ausência, agora, se justifica. Ele é meu novo Hyomin.

samedi, janvier 20, 2007

Oh Blanche...

mercredi, janvier 17, 2007

Preciso de férias

Quando eu quero começar o dia bem, eu lavo roupa. Quando eu estou à beira de um ataque de nervos, eu faço faxina na casa. Sempre deixo de propósito alguns lugares escondidos com poeira. Porque, assim, em dias ruins como hoje, posso achá-los e aspirá-los, o que me deixa feliz. Inclusive, acho muito mais prazeroso aspirar montinhos de poeira do que estourar plástico-bolha. Primeiro, por causa do clima Sherlock Holmes; você tem que fingir que não sabe do montinho atrás do quadro encostado na parede e flagrá-lo. Em segundo lugar, é maravilhoso ver a forma perfeita que se acumula. É que nem quando você vai à praia sem protetor solar e sem querer dorme com a mão na barriga. É a perfeição. Quase um "Doryphore" da sujeira. Isso sem mencionar a arte de aspirar...

mardi, janvier 16, 2007

A cura para insônia

dimanche, janvier 14, 2007

No hay banda

Hoje teve um grupo de estudo de arqueologia aqui em casa, oito horas non stop. Paramos uma horinha para o meu já tradicional brunch, que, no entanto, não acontece às 11 da manhã. Chamei a Marine, se lembram dela? Não é a das Ilhas Maurício, e sim a que tem os amigos que caçam e escutam Bob Sinclair. Pois então, depois de todo o drama de vocês-sabem-quem, nós ficamos mais próximas.

Aliás, sei que a minha popularidade no meu próprio blog anda em baixa depois desse ocorrido. Mas tal qual Velma Kelly, Norma Desmond e Caetano Veloso, eu não peço desculpas. Mentira, eu peço, sim! Menos nesse caso! Até minha mãe me ligou do Brasil reclamando, indiretamente cobrando a educação que tinha me dado. Continuo com a minha resolução in muros. Relações silenciosas são bonitas no cinema, como por exemplo em "Casa Vazia" (agora me dei conta que é sul-coreano!). Na minha singela opinião, são sempre idealizadas e tudo que é idealizado só pode acabar em tragédia.

Agora me lembrei que o meu primeiro amor - sem contar, papai - foi uma relação silenciosa. Eu tinha uns 5 anos e estava sentada na beira da piscina, esperando a aula de natação começar. Um menininho senta do meu lado e, sem falar nada, o pé dele toca o meu. Mas era mais do que tocar, o pé dele beijava o meu. Que gostosa indecência! E se meu pai me visse traindo ele? Mas não tinha mais jeito, eu havia me apaixonado! Depois desse beijo podal - que para mim durou uma eternidade - o menininho se levantou e sumiu. Nunca mais o vi. Nem pegou meu telefone! Bom, melhor do que se eu conhecesse ele melhor e descobrisse que ele não gosta de Mario Bros e come meleca do nariz.

samedi, janvier 13, 2007

OK, Mr. DeMille, I'm ready for my close-up!

vendredi, janvier 12, 2007

Isabel,

Vamos passar um bom Natal comendo muitas comidas boas, e arranjar um namorado. Quero ser uma boa amiga para você estando sempre ao seu lado dando muita força. Te amo querida amiga.
Hyomin
Paris 25.12.06

Pas mal para uma Mona Lisa

A história da japa estava tomando muito tempo na minha vida, demais da conta. Eu não parava de inventar teorias na minha cabeça. Ela era minha Mona Lisa nipônica. Decidi ser mais objetiva e cheguei à seguinte conclusão: somos amigas in muros. Só dentro de Paris, fora não funciona direito. Uma relação-celular, o sinal não pega em certos lugares. Pronto, fim de caso.

Afinal das contas, ela fala um pouco mais aqui. Tudo bem, nada que vá muito além das provas e do tempo, mas fala mais. E eu comecei dar uma de antropóloga e levar em conta a "questão cultural" depois que reli o cartão de natal que ela escreveu pra mim. Duas frases tinham passado despercebidas quando recebi o cartão no nosso almoço de Natal, além da que ela diz que mal pode esperar para ver o "CONCENRT" (assim mesmo, ela destaca em caixa alta) da Kylie Minogue:

T'es toujours gentille et gaie avec beaucoup d'énergies. Tu es une amie impressionante pour moi.

Ela deve, no mínimo, me achar uma freak. Ainda mais porque no final da viagem eu estava tão à flor da pele com essa história que resolvi ficar muda também. Eu fiquei muda durante dois dias. O clima era de guerra fria, pelo menos para mim. É provável que ela não tenha achado nada estranho. Quer dizer, eu calada durante dois dias? Não, definitivamente, ela percebeu. Chegamos em Paris, eu peguei a linha 4, ela a 5. Cada uma para seu canto. Para compensar, fiquei uma semana falando sem parar (na maior parte das vezes sobre ela, como vocês puderam constatar).

Agora, relendo mais uma vez o cartão, percebi mais um detalhe curioso. Na coluna direita (onde ficam as linhas para escrever o endereço) tem algo escrito em coreano. Cinco linhas, sendo que a última termina com reticências. Algum dos meus caros leitores fala coreano?

jeudi, janvier 11, 2007

Dada

A minha vida parece uma sucessão de provas. Mas, entre um e outro exame, acontece de vez em quando algo inesperado. Hoje, por exemplo, recebi uma nota média (12/20) em Art Contempo, que está longe de ser ruim para os parâmetros franceses, mas também não é nenhuma brastemp. Fiquei decepcionada porque a obra em questão era uma fotomontagem dada do Hausmann. Como eu posso ter tirado só 12? Eu sou dada! Notas medianas são tão broxantes. E, parando pra pensar, eu, ao longo da minha vida, fui uma aluna mediana com um destaque aqui, outro acolá. Quer dizer, menos na PUC. Mas estar acima da média da PUC não é lá um milagre. E os comentários dos professores para as minhas provas são sempre os mesmos: ótimas observações, contexto à aprofundar.

Tô enrolando vocês. O real motivo dessa chateação toda foi a seguinte: a Hyomin tirou 14. Vejam bem o meu nível de monstruosidade. Quase o personagem da Reese Witherspoon em "A eleição", com a diferença de que eu não quero dominar o mundo.

Mais uma vez me sai bem nas observações... já o contexto, sabe cumé.


Depois conto o fato inesperado.

samedi, janvier 06, 2007

O "pas malismo"

Acho que já deu para perceber que eu vou falar o ano inteiro sobre a Japa, né? Nesse ponto sou parecida com o Nelson Rodrigues. Quando me apaixono por algum assunto, fico obcecada. Quem me conhece sabe alguns deles. Depilação, "Marie Antoinette" e "Lost" já explorei exaustivamente nas mesas de bares cariocas. Eu sempre achava algum link esdrúxulo na conversa e começava a falar sobre alguma das minhas fascinações. Tinha gente, inclusive, que chegava a mudar de lugar na mesa.

Pela reação dos meus leitores, a Japa está parecendo um "pobrinho" do BBB. No início quase ninguém gostava e, agora, é só eu me revoltar contra ela que todo mundo fica com peninha! Tudo bem, eu sempre preferi o papel da vilã. Mas, para não parecer uma implicância non sense, vou me explicar melhor.

A ficha caiu quando a mãe dela ligou no primeiro dia. Enquanto elas conversavam, falei baixinho para ela mandar um beijo e desejar um bom ano novo para a família dela. A tonalidade da sua voz não mudou, claramente ela não havia dito nada. Depois eu descobri que os pais dela não sabem da minha existência - nem de ninguém diga-se de passagem. Eles sabem que ela tem amigos, como qualquer outro jovem, não importa quem são eles, o que importa é que ela se encaixa na normalidade. E é por isso que quando falei para ela mandar um beijo para sua família, ela não mandou. Não faria sentido, all of a sudden, um desses amigos ganhar uma personalidade.

Eu já estou há algum tempo na França. Com o tempo o sotaque foi diminuindo, me peguei inúmeras vezes falando "Ah bon!", confesso até, caros leitores, que eu bufo pacas. Mas se tem uma expressão local (na verdade, acaba sendo um estilo de vida) que eu não sucumbo, que eu acho completamente abominável e desprezível nessa cultura tão rica e interessante é o "pas mal".

O "pas mal" é utilizado quando você não tem opinião formada sobre alguma coisa ou considera que algo não fede nem cheira. O problema é quando tudo é "pas mal" para um pessoa, como para a japa. Ela viaja para Londres, estuda numa faculdade consagrada, "aprecia" arte, tem amigos de diversas nacionalidades. Tanto faz quem são esses amigos, se a comida é japonesa ou McDonald's. Ela gosta de Klimt porque acha fofo e não falta nenhuma aula de Expression Française, apesar não entender a necessidade de ler Flaubert num curso de história da arte. O fato dela não falar nem é o mais preocupante. O pior de tudo é não falar porque não tem nada a dizer.

vendredi, janvier 05, 2007

All That Jazz

jeudi, janvier 04, 2007

Top 5 motivos por que Hyomin é estranha

  1. Ela não bebe. Eu não sou o tipo de pessoa cujo lema é "eu bebo sim estou vivendo, tem gente que não bebe e está morrendo", no entanto, eu não confio em gente que não bebe.
  2. Fomos no Topshop, loja típica londrina, e as escolhas da japa foram as mais originais: duas calças blue jeans. Uma igual a outra.
  3. Os lugares que ela mais gosta de freqüentar são os cinemas e as boates. Não por acaso, lugares onde (quase) não se fala.
  4. Ao chegarmos na casa (um tanto apertada) da Olívia, quando sugeri que alternássemos quem dormiria no chão, ela falou que queria de qualquer jeito dormir no colchão. De qualquer jeito.
  5. Ela é apaixonada por um playboy de 18 anos. Um playboy de 18 anos de... Dubai.

L'arrivée

Nem Conan Doyle, nem Peter Sellers, nem Kate Moss, nem Henry VIII, nem Elton John, tampouco Hogarth, figuras tão essenciais do meu mundo, me impediram de pensar "que cidade feia!" assim que avistei o centro de Londres pela primeira vez. Cheguei até a fechar os olhos. Impossível não lembrar do dia em que conheci Paris, um dia dourado de agosto, e foi amor à primeira vista, caminho sem volta. Nossa, que cafona, anyway, descemos em Waterloo - que já mostra o incrível senso de humor inglês - e eu precisava trocar dinheiro para comprar o passe do metrô. É muito ruim perder dinheiro. Quase tive um treco quando vi que 50 euros só dariam 26 pounds.

Pegamos o metrô, demorei uns 5 minutos para entender como funcionava. Diferentemente de Paris, as linhas do underground londrino, se não me engano o mais antigo do mundo, têm nomes. Achei simpática essa idéia, mas pensei que seria ainda mais legal se as linhas tivessem nomes de letras dos Beatles. Across the universe line, All you need is love line e Yellow Submarine line não são mais divertidas que District Line e Northern Line?

Deixamos as malas na casa da Olívia e fomos andar pela cidade. Tudo estava supimpa entre eu e a japa, já havia esquecido o Gare du Nord Affair. Mas por pouco tempo, caros leitores, por pouco tempo. Eu percebi que a japa não tem opinião, nem vontade. Ela alternava basicamente três frases: "comme tu veux", "ça m'est égal" e "je ne sais pas". Eu achei que nossa relação sempre tinha sido à base de diálogos, mas isso foi tudo ilusão minha. Nossa "amizade" era, na verdade, um monólogo sem fim. Eu descobri que a japa é muda. Pelo menos acho que eu tenho um forte potencial para teatro.

mercredi, janvier 03, 2007

Le départ

Quem me conhece sabe que eu tenho uma coisa em comum com os ingleses: a pontualidade. No Rio já cansei de chegar na hora marcada no Jobi ou no BG e ficar segurando durante uma hora e meia mesas enormes. Haja coca light. Na verdade, eu encaro isso quase como um hobby. Gosto de ficar calculando a probabilidade de algum obstáculo acontecer no caminho, quais os caminhos possíveis, que horas tenho que sair de casa etc. E, na maior parte das vezes, eu sempre chego na exata hora, o que suscita fogos de artifício dentro de mim. Vou olhando a hora, dependendo dos empecilhos acelero ou não o passo.


Pois na madrugada do dia 28 o despertador tocou na hora prevista, 5.20 da manhã. O trem sairia da Gare du Nord às 7.13, mas eu ainda tinha que colocar meu pijama na mala, retocar a minha casinha (porque eu fiz um intercâmbio de casas com uma amiga que mora em Londres) para Olívia falar "uau, que casa gostosa" assim que abrisse a porta, fechar a mala, comer um croissant, passar num distributeur para tirar dinheiro e atravessar a cidade de metrô. Quatorze estações, para ser mais precisa.

E lá cheguei eu exatamente às 6.40, hora marcada com Hyomin em frente ao painel dos trens de départ. E lá eu esperei pela japa por 26 minutos agoniantes. Repararam que eu chamei ela de japa, né? Não se chega 5 minutos antes do trem partir quando o país de destino é a Inglaterra. Eu avisei isso diversas vezes à Sandy nipônica. Cheguei mesmo a convidá-la pra dormir em casa na véspera porque ela mora longe, em Le Kremlin Bicêtre - que by the way nem é mais considerado Paris -, ela simplesmente ignorou. Bom, ela que se vire para chegar, acorde às 3 da manhã e faça as baldeações necessárias para chegar na Gare du Nord, pensei eu. Isso é o que eu faria.

Enfim, ela chegou, por uma ajuda de Zeus (ou melhor, Hermes!) conseguimos pegar o trem e essa foi só a primeira vez que quis matá-la nos próximos seis dias.