O "pas malismo"
Acho que já deu para perceber que eu vou falar o ano inteiro sobre a Japa, né? Nesse ponto sou parecida com o Nelson Rodrigues. Quando me apaixono por algum assunto, fico obcecada. Quem me conhece sabe alguns deles. Depilação, "Marie Antoinette" e "Lost" já explorei exaustivamente nas mesas de bares cariocas. Eu sempre achava algum link esdrúxulo na conversa e começava a falar sobre alguma das minhas fascinações. Tinha gente, inclusive, que chegava a mudar de lugar na mesa.
Pela reação dos meus leitores, a Japa está parecendo um "pobrinho" do BBB. No início quase ninguém gostava e, agora, é só eu me revoltar contra ela que todo mundo fica com peninha! Tudo bem, eu sempre preferi o papel da vilã. Mas, para não parecer uma implicância non sense, vou me explicar melhor.
A ficha caiu quando a mãe dela ligou no primeiro dia. Enquanto elas conversavam, falei baixinho para ela mandar um beijo e desejar um bom ano novo para a família dela. A tonalidade da sua voz não mudou, claramente ela não havia dito nada. Depois eu descobri que os pais dela não sabem da minha existência - nem de ninguém diga-se de passagem. Eles sabem que ela tem amigos, como qualquer outro jovem, não importa quem são eles, o que importa é que ela se encaixa na normalidade. E é por isso que quando falei para ela mandar um beijo para sua família, ela não mandou. Não faria sentido, all of a sudden, um desses amigos ganhar uma personalidade.
Eu já estou há algum tempo na França. Com o tempo o sotaque foi diminuindo, me peguei inúmeras vezes falando "Ah bon!", confesso até, caros leitores, que eu bufo pacas. Mas se tem uma expressão local (na verdade, acaba sendo um estilo de vida) que eu não sucumbo, que eu acho completamente abominável e desprezível nessa cultura tão rica e interessante é o "pas mal".
O "pas mal" é utilizado quando você não tem opinião formada sobre alguma coisa ou considera que algo não fede nem cheira. O problema é quando tudo é "pas mal" para um pessoa, como para a japa. Ela viaja para Londres, estuda numa faculdade consagrada, "aprecia" arte, tem amigos de diversas nacionalidades. Tanto faz quem são esses amigos, se a comida é japonesa ou McDonald's. Ela gosta de Klimt porque acha fofo e não falta nenhuma aula de Expression Française, apesar não entender a necessidade de ler Flaubert num curso de história da arte. O fato dela não falar nem é o mais preocupante. O pior de tudo é não falar porque não tem nada a dizer.
21 Comments:
pas mal é nojento.
Sabe que eu acho Londres muito bonito? É uma estética de beleza diferente, não é aquela beleza afrescalhada parisiense.
Obs: A japa é coreana e isso explica, em parte, o silêncio.
eu sempre soube que essa japa era pura fachada. Mas vc quis me trocar por ela...
xiiii, ai de mim, se um dia não tiver opinião! ; )
Pois é, a japa é um personagem virtual para nós aqui. Gostar ou não gostar dela depende, unica e exclusivamente de você. E, no momento, o empenho parece ser para que nós a detestemos. Tadinha da japa.
querida carol,
vc irá conhecê-la quando me visitar. faço questão de um jantar só nós três aqui em casa. garanto que será o jantar mais longo da sua vida!
Pas mal.
Nao acredito que vc está bufando Bel? hahaha, queria ver! É normal, acaba que isso faz parte da língua, é maneira de se expressar em francês!
bj
confessa, confessa: vc ADOOOORA bufar...
eu acho charmoso!!! pronto, falei!!!
Monstra insensível.
Você realmente é uma monstra insensível.
AHAAAA! bufona!
quem diria, logo a Bebel... eu te vi crescer! nunca imaginava... bufona...
bof!!!Pelo menos vc tem alguma outra amiga pas pas mal aí né??!!hahahaha
ahh só agora vi que vc tinha Amy Whitehouse na sua listinha musical.
Pas mal du tout! ahahahahaahaha
C'est winehouse!ahahahah
ai bebel, imagina que eu estou numa fase tão monossilábica atualmente que essas suas críticas à nipônica me inquiétam! Eu estava numa "eu não vou falar, nada por falar, então eu escuto" Mas até eu me irrito com isso. "boeuf..." Ok "riscar -pas mal- do vocabulário" anotado.
Bebel, querida,
Não conhecia teu blog, adorei!
Divertido pelas histórias e por saber mais de você...
Vou te contar um segredo, depois você apaga aqui, eu tenho vergonha de você porque fiquei com seu livro e você foi embora.
Me desculpa?
Quero falar contigo mais frequentemente de novo.
(Um dia devolvo, prometo)
É lindo você falando do pasmalismo (que nada tem a ver com "pasmar-se") porque lembra a gente da sua maneira afetada (é, afetada!!! =) ) de falar das coisas, animada, viva, e sabendo que é foda viajar pra londres, estudar numa puta facul, morar em país, morrer de tesão no que faz.
Muito linda, você.
Um 2007 maravilhoso, cheio dessas coisas que você adoora.
(Até as bufadas, haha deve ser mt engraçado... sou capaz de imaginar)
Beijos mil
(e desculpas)
boeuf pra vc!
e, né, são culturas diferentes, a sua e a da coreana, e isso deve ser levado em conta. mas, then again, todo mundo já deve ter te falado isso.
beijobeijo!
Vale apenas lembrar, amigos, que "pas mal" é justo o contrário do que diz o texto. A autora compreendeu mal a expressão. Pas mal talvez se enquadre na categoria de "faux amis", termos que, parecidos com termos do português, nos remetem enganosamente aos sentidos desses últimos (como baiser – ou eventually, em inglês). O fato é que pas mal é algo bem "elogiativo" – pas mal é muito bom.
Fica a dica.
:)
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