Incrível a repercussão do
post anterior. Obrigada a todos pelas ligações, mensagens, telegramas e scraps de compaixão (e curiosidade). Por um instante cheguei a ficar comovida, mas depois que o
João Manuel, de tão surpreso, me deu "parabéns", cheguei a questionar a minha imagem! Mas enfim, o importante é que eu desencalhei, não é mesmo? Acreditem, queridos leitores: superei o caso Hyomin.
Eu havia chegado num estágio de encalhação em que só via casais. Pensem bem. Se no primeiro mês em Paris eu já havia
purchased “Trouver un Jules à Paris”, imaginem a situação cinco meses depois... Na rua, no cinema, no metro, eles estavam
partout e contra mim; cheguei a cogitar que se tratava de um complô. Para me defender, julgava pessoas comprometidas como seres inferiores. “Ahhh, tem namorado? Tsc, tsc, tsc”, eu dizia com uma das sobrancelhas levantada. Meus pobres amigos cansaram de discutir e rediscutir o meu caso, bolar teorias mirabolantes e lamentar a difícil situação de se ser solteiro por muito tempo.
Óbvio que eu nunca levava em consideração pequenos detalhes. Em primeiro lugar, eu mal saio de casa e, quando saio, se trata quase sempre de lugares em que a faixa etária média é de 70 anos. Em segundo lugar, eu nunca tomo iniciativa.
Don’t get me wrong, leitores, não considero mulheres de iniciativa como não sendo “de família”. Mas, cá entre nós, esse momento do
approach é
awkward porque você tem que dizer algo inteligente. Não dá para simplesmente chegar e se apresentar, fazer algum elogio esdrúxulo, comentar o tempo. E as chances d’eu falar uma besteira sem tamanho num momento em que se espera algo inteligente é de 99%. É por isso que sempre prefiro esperar que o outro dê o primeiro passo. E é por isso também, claro, que eu sempre fico encalhada.
A
soirée de
fin de semestre da Sciences Po não seria diferente. Entraria na festa cheia de esperanças (a última que morre) e sairia cheia de amargura. Pelos menos estava com amigos queridos que não via há tempos, pensei, a música estava sensacional e, entre uma vodka tônica e outra, comecei a deixar o meu lado
dancing queen aflorar. Eu não poderia imaginar que dali a alguns segundos tudo iria mudar.
Avistei um cara barbudo dançando no mesmo estilo que eu, algo entre Isadora Duncan e os carinhas de "Praise you". Eu me identifiquei. Foi tão espontâneo, que meu superego nem se pronunciou. No dia seguinte, relembrando esse fato inédito na minha vida de dar o primeiro passo, eu lembrei porque nunca o havia feito até então. Eu disse essas mesmas exatas palavras que estou prestes a digitar agora, caros leitores. Vocês estão sentados? Eu realmente falei isso, sem tirar nem pôr, e, mais, com um sotaque de inglês britânico: "Are you dancing alone?".
Após 3 segundos de silêncio, sem entender direito o que estava acontecendo, escuto um tímido "yes" e nós já estávamos dançando.