O balde d'água
Domingo passado, estava com minha darling lusitana numa crêperie que a gente adora na rue de la Harpe. A redondeza não é das melhores, é cheia de turistas, mas o restaurante tem um menu de 8 euros com direito a entrada, plat principal, sobremesa e, ainda por cima, copo de sidra. Como estava quente pra dedéu, nos sentamos na terrasse da onde, para nossa alegria, podíamos escutar um clarinetista. Eu sempre tive um carinho por esse instrumento, se eu fosse um som gostaria que fosse do clarinete. O homem tocava meio trôpego dando a impressão, não de que ele estava bêbado, mas de que tocava mais para ele do que para os outros, o que tornava sua música mais atraente. Nem canequinha ele tinha. Nunca esperar por um crepe foi tão prazeroso. Até que, all of a sudden, algo extraordinário quebrou a harmonia da noite. Algo que no meu imaginário só era possível num mundo fictício. Algo que até então eu só tinha visto nos "Trapalhões": jogaram um balde d'água no clarinetista! Na minha cabeça foi uma velhinha, mas vocês podem imaginar o que quiserem. Só sei que foi triste, a coisa mais humilhante que eu já vi na minha vida e que eu gostaria de ter dado um abraço nele.